quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

ENTREVISTA: Corre que a polícia vem aí!


Por Maiana Melo

Meses e meses de treinamento duro até que, enfim, um policial consegue se formar. Por ser uma profissão de risco, a polícia exige coragem, sangue frio, resistência física e muita paciência. Porque paciência? Por causa da população. Atualmente, um dos grandes problemas enfrentados pela polícia no Brasil é a repulsa e a falta de colaboração da população, que leva, dentre outras coisas, a uma “briga” entre policia e comunidade, dificultando assim esse trabalho, que é tão criticado por seu teor de agressividade, mas que seria facilitado com simples compreensão.

A aversão a policia é um assunto bem complicado de se discutir. Algumas pessoas a criticam por sua agressividade e imposição, mas não entendem o motivo real dessa atitude, às vezes por falta de compreensão ou conhecimento, ou simplesmente pelo fato de que essa atitude assusta bastante até a quem não é criminoso. Os policiais se utilizam desses meios para serem obedecidos, mas acabam desagradando muitas pessoas, principalmente as que são da família dos infratores. Em entrevista, um policial (que não quer se identificar) contou-me o porquê desse comportamento, tanto da população quanto da policia.

Maiana Melo: Qual é o comportamento da população com relação à polícia?

Policial: Na maioria das vezes o pessoal reage de uma forma negativa, porque é natural das pessoas não entender a ação da polícia, mesmo porque eles não são técnicos em segurança pública. Então, a chegada da policia sempre causa impacto. Às vezes a gente tem que chegar de uma maneira, eu não diria agressiva, mas de uma maneira firme, até porque as pessoas, principalmente aqui em Ilhéus, acham que se a policia chega de forma educada, é porque a policia não esta bem preparada, e o cara não sabe o que esta fazendo, então só obedece quando agente age de maneira enérgica. Se você chega de uma maneira branda, educada, você não é atendido. Infelizmente é assim, mas não deveria. Policial fardado deveria ser respeitado, e se o cidadão se sentir lesado, tem o direito de procurar os meios legais pra se defender.

Maiana Melo: Porque a polícia é tão criticada?

Policial: A polícia agrada sempre aquele que esta sendo vitima, lógico. Se você é vítima, você quer que prenda, que bata, e muitas outras coisas. Mas se o cara que cometeu o delito foi parente seu, você quer que a polícia trate de forma educada, que não encoste a mão, que trate de maneira cordial, então pra população, a policia só agrada quando está defendendo ele, quando ta trazendo alguma coisa de bom pra ele. Agente entende isso, é um comportamento da população, acho que a população deveria ajudar mais a policia.

Maiana Melo: Qual seria uma possível solução pra isso?

Policial: A solução pra isso é complicado. Não é uma coisa limitada daqui da região, é Brasil, é a postura das pessoas. Então a população só vê a policia de uma forma truculenta, que a policia é truculenta, mal preparada. Então, se acerta, é sua obrigação, quando erra, é despreparado, então não agrada muito e nem vai agradar. Pra resolver isso aí é bem complicado porque parte do início, da educação. A solução de tudo pra mim é a educação. Tudo se resolveria se o governo investisse em educação. Se o cara tem uma boa formação, uma boa educação, ele vai estar preparado pro mercado de trabalho, vão surgir oportunidades, se surgirem oportunidades vai surgir emprego…

Maiana Melo: Ele não precisaria procurar os meios ilícitos…

Policial:… ele não vai precisar traficar, roubar e outras coisas mais, as crianças não terão pais analfabetos, despreparados, e sim uma família estruturada. Então pra mim a base de tudo é a educação. Eu não posso dizer como melhoraria a policia, porque não tem como melhorar, e nem o comportamento das pessoas com relação a policia. Se fosse melhorar alguma coisa seria a educação.

A integração polícia-comunidade já resolveu vários problemas, e resolveria muitos outros caso existisse compreensão entre as partes. Um exemplo disso aconteceu em Palmas – Tocantins: na manhã de uma quarta feira, 23 de novembro de 2011, uma senhora de 46 anos procurou a UPC (Unidade de Polícia Comunitária) do 1º BPM – Operacional, que fica na 906 sul, em Palmas, e repassou a informação aos policiais militares que teria sido roubada, e o desfecho foi a prisão desse assaltante.  Enfim, só nos resta refletir sobre o papel dos policiais como defensores da ordem pública, e não apenas como agressores que não se importam com o direito de ir e vir dos outros. Muito ainda deve ser feito para mudar essa realidade, mas com a colaboração do povo, essa situação mudaria para melhor.

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